13 de outubro de 2011

Fazer o quê, se eu te amo?





Fazer o quê, se adoro o seu sorriso?

Fazer o quê, se adoro o jeito como me olha?

Fazer o quê, se adoro sentir sua mão tocar meu rosto?

Fazer o quê, se adoro o jeito como nossos corpos se encaixam perfeitamente, como peças de um quebra-cabeças?

Fazer o quê, se adoro os beijos quentes e apaixonados que me dá?

Fazer o quê, se adoro quando briga comigo só para fazer as pazes depois?

Fazer o quê, se adoro o jeito como te amo cada dia mais?





24 de agosto de 2011

Chaplin





(Charles Chaplin)




A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?

19 de agosto de 2011

A Rosa



O tiquetaquear do relógio anunciava que o expediente encerrara há uma hora, mas a pilha de papéis sobre sua mesa parecia não ter diminuído uma polegada sequer. Precisava terminar com os serviços pendentes antes de sair de licença. A cirurgia para a retirada de um nódulo já estava marcada, seria em dois dias, e ela estava tensa. Tinha medo de não resistir, afinal sua mãe havia falecido há dois anos, vitima do mesmo problema. Desde que descobrira o tal nódulo, perdera completamente a vontade de viver. Sabia que não deveria cultivar tal pessimismo, mas no fundo, em seu íntimo, sentia que não teria escapatória. 

O relógio marcava quinze para as nove, agora. 

As luzes do corredor central apagaram e os últimos funcionários foram embora. Sozinha, procurou concentrar-se na tarefa, mas estava eufórica demais. Por duas vezes se pegou devaneando sobre o que a aguardava e teve que recomeçar a tarefa. Exausta, seus olhos não conseguiam mais acompanhar os números na tela do computador. Limpou as lentes dos óculos e nem assim melhorou. Estava tarde e precisava descansar.

Enquanto seu computador desligava, checou todos os setores, apagou as luzes e antes de sair guardou o porta retratos com a foto de sua mãe na bolsa.

A noite estava quente e o céu estrelado exibia uma lua cheia e avermelhada. Amarrou os cabelos a fim de aliviar o calor mormacento daquela noite e caminhou apressada até o ponto de táxi mais próximo. Fazia aquele trajeto todos os dias, mas era a primeira vez que o percorria sozinha. O ponto de táxi era o único lugar iluminado em meio a rua deserta, mas precisaria esperar alguns minutos até que o próximo carro chegasse.

Um perfume diferente, uma mistura floral e amadeirada, preencheu o ar a sua volta. A lâmpada de um poste mais adiante piscou e ela se assustou. Sentada na beira da calçada e segurando uma cesta com as mais variadas flores, estava uma menina. Ela não deveria ter mais que sete ou oito anos. Uma túnica azul turquesa cobria seu pequeno corpo, deixando amostra a ponta de seus dedos e seus pés, descalços, exibiam ferimentos já cicatrizados e alguns recém adquiridos. Seus cabelos louros brilhavam sob o reflexo da lua e seus lábios moviam-se lentamente. 

Preocupada, Hellen se aproximou da menina que pareceu não perceber. Foi engolfada pela sensação de conhecimento, era como se já tivesse visto aquela menina antes. Com o coração aos saltos, chegou mais perto. Enquanto cantava a menina retirou uma rosa da cesta, escolheu a mais bulbosa e perfumada, e a entregou sobressaltando-a com seu movimento rápido.

Tudo naquela menina era muito familiar, desde o tom dos seus cabelos lisos e compridos ao formato de seus dedos. 'Não pode ser!', pensou abismada com tal semelhança. 

“Helena?” — chamou.


Balançando o corpo para frente e para trás, a menina não respondeu. Ela pegou outra flor e começou a despedaçá-la como num bem-me-quer-mau-me-quer. Hellen ajoelhou-se diante da menina e chamou novamente.

“Helena?” 

Alguma coisa brilhava no rosto da criança, até que pequenas manchas escuras surgiram em sua túnica. Ela estava chorando. A intensidade das lágrimas e de seus lamentos aumentou gradativamente e ela logo estava aos prantos.

Chorando copiosamente a menina murmurava pedidos de desculpas e dizia que não faria novamente. Congelada, pega de surpresa pelas palavras e o remorso crescente da criança, ficou sem saber o que fazer. Queria segurar a menina em seus braços e acalentá-la.

A menina levantou o rosto e a encarou.

Foi como se uma descarga elétrica percorresse o seu corpo. A semelhança era patente; seu olhar inocente, o contorno dos lábios, até mesmo as covinhas em suas bochechas quando sorriu. Era ela, não tinha dúvidas. Helena.

Quando criança, Hellen perdeu sua irmã gêmea num acidente de trânsito. As duas seguiam por uma esquina, acompanhadas de sua mãe, quando Helena viu uma rosa branca no chão e correu para pegá-la. Foi tudo tão rápido que não saberia calcular o tempo entre o cantar dos pneus no asfalto e a colisão.

“Não é tão ruim quanto dizem nem tão doloroso como pensam.” — sussurrou a menina ao perceber que a mulher chorava. — “Não tenha medo.” — e tocou seu rosto com a ponta dos dedos infantis e frios. 

A lâmpada no poste piscou mais uma vez e a menina desapareceu. Ainda segurando a rosa, Hellen chamou pela menina, olhando em todas as direções a sua procura. Podia ouvi-la cantar e sentir o cheiro das flores, mas não havia sinal dela em parte alguma. Por onde passava, encontrava pétalas de flores pelo chão e decidiu então seguir a trilha, embrenhando-se por ruas escuras e desertas até que finalmente viu-se diante de um grande portão de ferro. 

As correntes pendiam soltas e enferrujadas. Com um toque o portão cedeu e abriu rangendo. Não fazia a mínima ideia de onde estava e muito menos do porque de a estar seguindo. Qualquer um, em sã consciência, teria corrido de medo. Mas havia algo mais naquela menina. Precisava de respostas. O lugar era um campo aberto e cercado por arvores altas e algumas plantas rasteiras. Por diversas vezes seus pés prenderam-se às raízes expostas, mas manteve-se firme. Arriscou chamá-la mais uma vez e sua voz ecoou em todas as direções. Avançou mais alguns metros até que seus pés tocaram em algo sólido e maciço. Na penumbra não divisou o que pudesse estar em seu caminho, imaginou uma pedra, mas era perfeitamente talhada para tal. Tateando o obstáculo às cegas seu coração quase saltou pela boca quando a luz da lua refletiu. 

Carmo Salles, 1907-1998

Foi como se tudo ao seu redor começasse a entrar em foco. Cruzes, jazigos, vielas que levavam a uma infinidade de túmulos. Quis gritar, mas o pavor a consumia. Fatigada, tentou correr. E foi quando ao longe, no topo de uma colina, vislumbrou a silhueta da menina. O som de sua voz ficava mais nítido a cada passo e o perfume das flores estava em todas as direções. Ela gritou mais uma vez antes de perder totalmente as forças e desabar no chão com um baque surdo.

Uma mão branca e infantil surgiu diante dos seus olhos.

“Não tenha medo.” — disse a menina, tocando seus cabelos. — “Já está quase acabando.”


Atordoada a mulher olhou para a menina e se assustou. O grito de pavor ficou preso na garganta ao encarar seu rosto. Seus lábios vergaram-se num sorriso triste. Ela chorava.

“Venha.” — chamou, tocando agora seu queixo.

“Para onde está me levando, Helena?” — perguntou exausta.

“Está na hora.”

Cambaleando, a mulher ficou de pé e sem entender o porquê, segurou a mão da menina e com ela rumou para o topo da colina. 

***

“Um, dois, três... Afastem-se!” — gritou o enfermeiro, antes de aplicar-lhe mais uma descarga elétrica no peito. Mas já era tarde, o monitor exibia apenas uma linha horizontal.








4 de agosto de 2011

(Música) Like a Star - Corinne Bailey Rae


Just like a star across my sky
Just like an angel off the page
You have appeared to my life
Feel like I'll never be the same
Just like a song in my heart
Just like oil on my hands
Honor to love you

Still i wonder why it is
I don't argue like this
With anyone but you
We do it all the time
Blowing out my mind

You've got this look i can't describe
You make me feel like I'm alive
When everything else is a fade
Without a doubt you're on my side
Heaven has been away too long
Can't find the words to write this song
Oh... Your love

Still i wonder why it is
I don't argue like this
With anyone but you
We do it all the time
Blowing out my mind

I have come to understand
The way it is
It's not a secret anymore
'cause we've been through that before
From tonight I know that you're the only one
I've been confused and in the dark
Now I understand

I wonder why it is
I don't argue like this
With anyone but you
I wonder why it is
I wont let my guard down
For anyone but you
We do it all the time
Blowing out my mind

Just like a star across my sky
Just like an angel off the page
You have appeared to my life
Feel like I'll never be the same
Just like a song in my heart
Just like oil on my hands





2 de agosto de 2011

10...




Coisas que tenho de fazer antes de morrer:

* Ter, pelo menos, mais dois filhos
* Publicar meu livro
* Me realizar profissionalmente
* Visitar o Vaticano
* Saltar de asa delta
* Aprender a desenhar
* Ter uma casa de campo
* Estar em algum lugar onde possa ver a neve
* Continuar amando intensamente
* Pensar no passado e sorrir

Coisas que mais digo:

* Eu te amo
* Merda! (eu sei que não é bonito, mas antes isto que um palavrão mais cabeludo)
* “Tá” bom
* Sei...
* Está tudo bem?
* Hum hum 
* Só um minutinho
* Não quero
* “Derdocéu”
* Que bom!

Coisas que faço bem:

* Amar
* Cozinhar
* Aprender
* Arrumar
* Falar
* Sonhar
* Escrever
* Questionar
* Cuidar
* Pensar

Defeitos:

* Perfeccionista
* Impaciente
* Ansiosa
* Rebelde
* Preguiçosa (só de vez em quando!)
* Complexa
* Teimosa (na maioria das vezes)
* Exigente
* Seletiva
* Medo da solidão
* Achar que sempre dou conta do recado

Qualidades:

* Perfeccionista (sim!!! É minha maior qualidade e meu pior defeito)
* Justa
* Realista, mas ao mesmo tempo, muito sonhadora
* Destemida
* Dedicada
* Organizada
* Divertida
* Sensível
* Espontânea
* Feliz (em tempo integral)

Coisas que adoro: 

* A minha história de amor
* Ver o sorriso da minha filha quando chego
* Comida japonesa 
* Sorvete de morango
* Sapatos (ah, pois é, se pudesse teria uma infinidade deles)
* Ouvir uma boa música
* Dormir de conchinha
* Massagens (Oh God! Não tem coisa melhor)
* Cafuné
* Beijo de boa noite



Coisas que detesto:

* Avareza
* Hipocrisia
* Sujeira
* Que mexam nas minhas coisas sem permissão
* Falta de educação
* Falta de humildade
* Covardia com crianças, animais e idosos
* Mentira
* Transpirar
* Frustrar-me com coisas que deixei de fazer





18 de julho de 2011

Onde foi que eu errei?


Mais uma noite de dor e tristeza e tudo o que a mulher fizera nas últimas quarenta e oito horas era chorar pela ausência do filho. Sobre a cama de seu quarto revirado depois da última discussão, estavam as fotografias do tempo em que ele era apenas uma criança, época em que a inocência estampava seus olhos e o sonho de ser jogador de futebol substituíra o de um dia, tornar-se super-herói. 

Lembrava-se, com uma saudade profunda, do dia em que chegou da maternidade com seu pequeno anjo nos braços. Os olhos verdes como safira piscavam preguiçosamente enquanto a boca abria-se num bocejo gostoso. Dos cabelos, nada se podia identificar ainda, eram tão ralos que se perguntava qual seria a cor que teriam. As mãozinhas, minúsculas e frágeis, abriam e fechavam num ritmo constante, como se tentasse pegar o ar que o rodeava.

Passou então para a fotografia mais antiga. Aquela fora tirada em seu primeiro aniversário. O menino ainda não falava, mas já começava a ensaiar seus primeiros passinhos. Era tombo atrás de tombo misturado a choros e risos. E foi assim até que seus pés finalmente adquiriram a estabilidade necessária para mantê-lo de pé.

Xodó da família, o menino era tido como um rei dentro de casa, afinal era o único filho homem já que a mulher tinha duas filhas. As dificuldades foram inúmeras. Chegaram ao ponto de passar por necessidades financeiras e nem mesmo terem o que comer. Mas isso logo foi superado e eles deram a volta por cima.

Os anos passaram e com eles vieram a separação do casal e a independência das filhas mais velhas, que logo saíram de casa e seguiram seu rumo, criando assim suas próprias famílias. Sozinha com o filho, a mulher privou-se de tudo o que podia em prol do rapaz, que crescera e começava a tomar formas de homem.

No entanto, se ela achava que passara dificuldades no passado, não chegava nem perto do que estava prestes a lhe acontecer.

Confiando cegamente no rapaz, a mulher o deixava sozinho em casa todas as noites para poder trabalhar. No início, ocorrera tudo bem, mas no momento em que as “amizades” foram surgindo, as coisas ficaram fora de controle. Antes mesmo de ter completado a idade adulta o jovem rapaz já se aventurava em noites de esbórnia, regadas a muita bebida e vícios de todos os tipos e gostos.

Com o passar do tempo, seu comportamento mudara. Ficava cada vez mais agressivo e irresponsável. Não frequentava mais a escola e havia abandonado de vez os treinos de futebol. Preocupada, a mulher perguntava ao filho o que estava acontecendo, mas ele nada dizia e seu silêncio a afligia.

Não demorou muito e logo descobriu o que estava por trás da mudança repentina de seu filho. Envolvido com drogas e devendo muito dinheiro, o rapaz começou a cometer pequenos furtos, fazendo assim com que todos de sua família se afastassem. Ninguém queria ser visto em sua companhia com receio de sofrerem represália dos cobradores. Mas a mulher manteve-se sempre ali, lutando pela causa de seu filho. E o jovem, cego pelo vício que o dominava diariamente, não percebia o esforço inumano que ela fazia ao procurá-lo nos lugares funestos e sombrios onde ele se abrigava até que o efeito passasse.

Desesperada, procurou a ajuda do juizado de menores de sua cidade e finalmente conseguiu com que ele se internasse. Mas sua estadia no local durou pouco mais de quinze dias e ele fugiu. Sem saber o que fazer, a mulher o acolheu de volta ao ceio do seu lar. E mais uma vez ele mordeu a mão que o alimentou.

Noites em claro ela passou, imaginando por onde andava seu menino e o que estaria fazendo. Até que finalmente veio-lhe a notícia.

“Mãe?” — chamou uma de suas filhas, entrando no quarto. — “Está na hora. Vamos?”

Com um último olhar, a mulher se despediu do quarto colocando seus óculos escuros. Apesar do sol que brilhava lá fora, seus dias nunca mais seriam como antes. Daquele momento em diante, tornar-se-iam negros como a noite e frios como gelo.

***

"A mente humana é extremamente fascinante. Através dela podemos viajar para diversos lugares, sermos pessoas diferentes a cada dia, imaginarmos um mundo com o qual idealizamos... Viajar na maionese? Pirar na batatinha? E daí? Temos a melhor ferramenta para nos esvairmos desse mundo louco e as pessoas ainda precisam de drogas para isso? Esses sim são os verdadeiros loucos... Não sabem o prazer que é deitar-se diante de um céu estrelado e se imaginar num foguete em direção a lua. Como é bom sonhar."





16 de junho de 2011

As Estrelas de Branca


Todas as noites, antes de deitar-se para dormir, a pequena Branca admirava as estrelas através da janela de seu quarto e perguntava-se o que na verdade elas eram. Ficava na janela horas e horas até que o sono a vencia e por ali mesmo adormecia.

Com o raiar de mais um dia, a menina ficou aborrecida por ter pegado no sono e prometeu para si mesma que na noite seguinte, não dormiria. Ela tinha um plano. Logo que as primeiras estrelas apareceram, Branca pegou uma manta velha, alguns travesseiros, uma lanterna, uma coberta e foi para o jardim. Dali, teria uma visão melhor e com certeza não adormeceria.

As horas passaram e a menina continuava no jardim, fitando o céu com expectativa, mas alguma coisa estava errada naquela noite. ‘Onde estão as minhas estrelas?’, perguntou-se. ‘Por que elas não estão brilhando?’. Decepcionada, Branca voltou para casa e subiu para o seu quarto com lágrimas nos olhos. Vendo a tristeza no rosto da menina, seu pai a seguiu e a encontrou acuada num canto do quarto.

“O que houve, querida?” — perguntou o homem enxugando suas lágrimas com um lenço.

Ela fungou.

“Minhas estrelas. Alguém apagou as minhas estrelas!”

O homem a pegou no colo e a levou até a janela.

“Branca, querida, ninguém ‘apagou’ suas estrelas, elas apenas estão escondidas atrás daquelas nuvens.” — e beijou sua bochecha. — “Às vezes, as estrelas precisam se esconder para que a chuva caia.”

Ela o encarou, aborrecida.

“Mas eu não gosto da chuva! Prefiro as minhas estrelas.”

Achando graça da inocência da menina, o homem riu.

“Eu sei, mas pense bem. Se a chuva não cair, quem vai regar todas as flores e árvores do nosso jardim e de todo o mundo? Sem a chuva as plantas não crescem, querida.”

Branca franziu o cenho, pensando.

“E se eu regasse as plantas com o meu regador? Assim as estrelas não precisariam mais ter que se esconder.”

“Mas é assim que funciona a natureza, Branca. As plantas, os animais, todos nós precisamos da chuva, assim como precisamos do sol que nos aquece pela manhã. Não se preocupe, suas estrelas vão aparecer.” — e a levou para a sua cama, cobrindo-a cuidadosamente. — “Agora está na hora de dormir. Boa noite.” — com um beijo de despedida o homem acendeu o abajur e foi para a porta.

“Papai?”

“Sim, querida?”

“O que são estrelas?” — perguntou a menina, a curiosidade lhe saltando os olhos.

O homem pensou bastante antes de responder. Não queria desapontá-la, mas uma conversa como aquela levaria a noite toda. Decidiu então deixar por conta da imaginação da menina.

“As estrelas são anjinhos brilhantes que todas as noites enfeitam o nosso céu.”

“Anjos?” — perguntou confusa. — “Mas eu pensei que os anjos tivessem asas?”

Pelo visto aquela conversa ainda renderia bastante.

“Há vários tipos de anjos.” — começou ele. — “Anjos com asas, espadas, arcos e flechas e... tem os anjos que são estrelas.”

“Hmm” — disse pensativa. — “Então aquela história de Astros Luminosos é mentira, papai?”

Surpreso o homem gargalhou.

“Não exatamente. Isso foi só uma coisa que os adultos inventaram.”

“Por que os adultos gostam tanto de complicar as coisas?” — murmurou, dando um longo bocejo.

“Essa resposta, eu não sei.” — disse ele ajeitando seu travesseiro e a beijando novamente. — “Boa noite.”

“Papai?”

“Sim, querida?”

“Pode ficar comigo esta noite? Tenho medo de dormir sozinha.”

“Mas você faz isso todas as noites, querida.” — disse ele acomodando-se no pequeno espaço que restara na cama.

“Eu nunca durmo sozinha, papai.” — e bocejou novamente. — “Meus anjos-estrela estão sempre comigo. Mas é que esta noite eles não virão. Eu sei que não.” — disse ela com os olhos cheios d'água, aconchegando-se em seus braços. — “Boa noite, papai.”

Sem argumentos, o homem apenas a abraçou. O que ele não daria para que uma única estrela brilhasse no céu naquele momento.





1 de junho de 2011

Intermitências


Um gotejar contínuo caia sobre seu rosto fazendo-a despertar para uma realidade que desejava jamais voltar. As roupas destruídas e o corpo violentado não eram nada comparados a dor que sentia em seu íntimo. Esperava pela morte que já estava em seus calcanhares e a receberia de braços abertos. Na verdade, isto seria a única coisa que se permitiria aceitar naquele momento. 

O fim.

Seria o fim de uma vida marcada por leviandade e libertinagem. O que mais poderia se esperar de alguém com uma vida como aquela? Ter o corpo possuído por diversos homens, simplesmente pelo prazer de dar prazer, até que não era tão ruim (dependendo de quando e onde). O dinheiro fácil a proporcionava uma vida de glamour e luxo. Padrão este que jamais conseguiria se continuasse atrás do balcão daquela butique chinfrim. 

Enquanto a água da chuva caia, lavando o sangue que agora escorria por seu decote, percebera que o preço que estava prestes a pagar por uma vida sem regras, sem pudor, era alto demais. 

Ainda podia sentir, impregnado em seus braços, mãos, pescoço, seios... cada parte do seu corpo em que ele a tocou, o seu cheiro. A dor aumentava na medida em que a cena voltava as suas lembranças.

Arrumou-se mais demoradamente que o de costume para o encontro. Afinal, não seria um programa como qualquer outro. Até mesmo porque ele não era um cliente como qualquer outro. Aquele sim era o tipo de homem que estava disposto a pagar o “seu preço” — afinal, custava caro manter-se sempre linda e “gostosa”. Ele, por outro lado, fazia todas as suas vontades, realizava todos os seus desejos e caprichos. Comprava-lhe as joias mais caras e as roupas das melhores marcas e grifes. Mandava-lhe flores todas as manhãs e à noite cestas de bombons que encobriam o que de fato era a surpresa: langeries de renda, de todas as cores e modelos.

Mas aquilo precisava terminar.

Simon. Assim ele se chamava. Um homem envolvente e misterioso. Seus olhos negros eram intimidadores e, ao contrário do medo, sentia-se cada vez mais atraída e envolvida por aquele homem, de fala mansa e ponderada. Porém, após um tempo encontrando-se com frequência, percebera mudanças drásticas em suas atitudes e gestos. 

Simon tornara-se possessivo e extremamente ciumento. Não era para ser assim. Sua vida não lhe permitia ter um relacionamento sério com nenhum homem e último que tentou, não durou duas semanas. Tempo necessário para que o sujeito percebesse a boa bisca que apresentava aos seus como sua namorada.

Sentia-se livre e queria continuar assim. Não queria estar presa ou manter qualquer tipo de vínculo com quem quer que fosse. Foi desse tipo de relação que fugira anos atrás. Um casamento mal sucedido, marcado por desconfianças e traições. 

Um vento frio percorreu seu corpo machucado e molhado, intensificando as dores em seus membros. Sem forças para sair de onde estava, fechou os olhos. Ele voltaria, sabia disso em seu inconsciente. E ela esperaria. Esperaria pelo “golpe” de misericórdia que a levaria direto para o fim. Fim este que aguardava com expectativa. 

Lutava com suas memórias, incapaz de acreditar que aquele homem, o homem que a fazia se sentir a mulher mais perfeita de todas. Aquele homem que sabia tocar seu corpo de forma cadenciada como nenhum outro o fizera, fora capaz de roubar não somente seus sonhos, mas também toda a sua vontade de viver. Desejava jamais tê-lo conhecido se previsse um fim assim, doloroso e tortuoso.

E ele voltou.

Com passos suaves e precisos, tocou a grama ao seu lado, aproximando-se lentamente, tornando aquele momento ainda mais desesperador. Porém, seu corpo fraco e moribundo recusava-se a se mexer. Não queria ver o que seu algoz lhe preparava. E então sentiu a violência de seu toque ao virar seu rosto para ele, forçando-a a abrir os olhos. 

O grito de dor preso em sua garganta soou fraco. Uma nota baixa e agourenta ao sentir a ponta da faca que cortava seu rosto. Um movimento lento e angustiante. A dor era dilacerante. O sangue quente e pegajoso escorreu por seu pescoço e ombros, empapando seus cabelos. Desorientada pela dor forçou seus olhos a se abrirem ainda mais, pouco se importando com as gotas que vinham do alto e insistiam em cair sobre eles, cegando-a momentaneamente. 

Um som metálico cortou o ar e o chão ao seu lado tremeu. Uma, duas, três... sete vezes, até que finalmente cessou, quando um objeto pesado caiu a poucos centímetros de seu quadril. Mais uma vez, Simon saiu e a deixou sozinha em meio às árvores e seu pavor crescente. Não havia mais sentido em lutar por sua vida, só queria que tudo aquilo acabasse o quanto antes. Não sabia por quanto tempo mais suportaria aquela tortura.

A chuva intensificou — assim ela pensou — até sentir o cheiro forte de gasolina que invadia suas narinas fazendo sua cabeça girar. Simon apenas a fitava com seus olhos negros, insondáveis. Ele aguardava por alguma coisa e sorriu ao vê-la piscar.

“O que você quer de mim?” — exigiu saber, desesperada.

Alisando seu corpo pela última vez, Simon a empurrou para dentro de um buraco, o que logo a fez concluir o que era o tal objeto pesado. Era uma pá e o que ele cavava naquele momento, nada mais era que a sua cova. 

E a chuva de gasolina continuou.

“Eu lhe avisei. Se não fosse minha, não seria de mais ninguém!”

Uma chama propagou em meio à escuridão úmida e medonha.





30 de maio de 2011

(Música) Valerie - Amy Winehouse

 
 

Well Sometimes I Go Out,

By Myslef,


And I Look Across The Water.
And I Think Of All The Things,
Of What You're Doing,
And In my head I Paint A Picture.
Since I've Come Home,
Well My Body's Been A Mess,
And I Miss Your GINGER Hair,
And The Way You Like To Dress.

Oh Wont You Come On Over,
Stop Making A Fool Out Of Me,
Why Dont You Come On Over, Valerie.

Valerie
Valerie
Valerie

Did You Have To Go To Jail,
Put Your House Out Up For Sale,
Did You Get A Good Lawyer.
I Hope You Didnt Catch A Tan,
I Hope You Find The Right Man,
Who'll Fix It For You.
Are You Shopping Anywhere,
Change The Color Of Your Hair,
And Are You Busy.
Did You Have To Pay That Fine,
That You Were Dodging All The Time,
Are You Still Dizzy.
Well Since I Come Home,
Well My Body's Been A Mess,
And I Miss Your GINGER Hair,
And The Way You Like To Dress.

Oh Wont You Come On Over,
Stop Making A Fool Out Of Me,
Oh Why Dont You Come On Over, Valerie.

Valerie
Valerie
Valerie

Well Sometimes I Go Out,
By Myslef, And I Look Across The Water.
And I Think Of All The Things,
What You're Doing,
And In My Head I Paint A Picture.

Since I've Come Home, Well My Body's Been A Mess, And I Miss Your GINGER Hair, And The Way You Like To Dress.

Oh Wont You Come On Over,
Stop Making A Fool Out Of Me,
Oh Why Dont You Come On Over, Valerie.

Valerie
Valerie
Valerie
Valerie
Valerie
Valerie
Valerie
Valerie

Why Don't You Come On Over Valerie...