18 de julho de 2011

Onde foi que eu errei?


Mais uma noite de dor e tristeza e tudo o que a mulher fizera nas últimas quarenta e oito horas era chorar pela ausência do filho. Sobre a cama de seu quarto revirado depois da última discussão, estavam as fotografias do tempo em que ele era apenas uma criança, época em que a inocência estampava seus olhos e o sonho de ser jogador de futebol substituíra o de um dia, tornar-se super-herói. 

Lembrava-se, com uma saudade profunda, do dia em que chegou da maternidade com seu pequeno anjo nos braços. Os olhos verdes como safira piscavam preguiçosamente enquanto a boca abria-se num bocejo gostoso. Dos cabelos, nada se podia identificar ainda, eram tão ralos que se perguntava qual seria a cor que teriam. As mãozinhas, minúsculas e frágeis, abriam e fechavam num ritmo constante, como se tentasse pegar o ar que o rodeava.

Passou então para a fotografia mais antiga. Aquela fora tirada em seu primeiro aniversário. O menino ainda não falava, mas já começava a ensaiar seus primeiros passinhos. Era tombo atrás de tombo misturado a choros e risos. E foi assim até que seus pés finalmente adquiriram a estabilidade necessária para mantê-lo de pé.

Xodó da família, o menino era tido como um rei dentro de casa, afinal era o único filho homem já que a mulher tinha duas filhas. As dificuldades foram inúmeras. Chegaram ao ponto de passar por necessidades financeiras e nem mesmo terem o que comer. Mas isso logo foi superado e eles deram a volta por cima.

Os anos passaram e com eles vieram a separação do casal e a independência das filhas mais velhas, que logo saíram de casa e seguiram seu rumo, criando assim suas próprias famílias. Sozinha com o filho, a mulher privou-se de tudo o que podia em prol do rapaz, que crescera e começava a tomar formas de homem.

No entanto, se ela achava que passara dificuldades no passado, não chegava nem perto do que estava prestes a lhe acontecer.

Confiando cegamente no rapaz, a mulher o deixava sozinho em casa todas as noites para poder trabalhar. No início, ocorrera tudo bem, mas no momento em que as “amizades” foram surgindo, as coisas ficaram fora de controle. Antes mesmo de ter completado a idade adulta o jovem rapaz já se aventurava em noites de esbórnia, regadas a muita bebida e vícios de todos os tipos e gostos.

Com o passar do tempo, seu comportamento mudara. Ficava cada vez mais agressivo e irresponsável. Não frequentava mais a escola e havia abandonado de vez os treinos de futebol. Preocupada, a mulher perguntava ao filho o que estava acontecendo, mas ele nada dizia e seu silêncio a afligia.

Não demorou muito e logo descobriu o que estava por trás da mudança repentina de seu filho. Envolvido com drogas e devendo muito dinheiro, o rapaz começou a cometer pequenos furtos, fazendo assim com que todos de sua família se afastassem. Ninguém queria ser visto em sua companhia com receio de sofrerem represália dos cobradores. Mas a mulher manteve-se sempre ali, lutando pela causa de seu filho. E o jovem, cego pelo vício que o dominava diariamente, não percebia o esforço inumano que ela fazia ao procurá-lo nos lugares funestos e sombrios onde ele se abrigava até que o efeito passasse.

Desesperada, procurou a ajuda do juizado de menores de sua cidade e finalmente conseguiu com que ele se internasse. Mas sua estadia no local durou pouco mais de quinze dias e ele fugiu. Sem saber o que fazer, a mulher o acolheu de volta ao ceio do seu lar. E mais uma vez ele mordeu a mão que o alimentou.

Noites em claro ela passou, imaginando por onde andava seu menino e o que estaria fazendo. Até que finalmente veio-lhe a notícia.

“Mãe?” — chamou uma de suas filhas, entrando no quarto. — “Está na hora. Vamos?”

Com um último olhar, a mulher se despediu do quarto colocando seus óculos escuros. Apesar do sol que brilhava lá fora, seus dias nunca mais seriam como antes. Daquele momento em diante, tornar-se-iam negros como a noite e frios como gelo.

***

"A mente humana é extremamente fascinante. Através dela podemos viajar para diversos lugares, sermos pessoas diferentes a cada dia, imaginarmos um mundo com o qual idealizamos... Viajar na maionese? Pirar na batatinha? E daí? Temos a melhor ferramenta para nos esvairmos desse mundo louco e as pessoas ainda precisam de drogas para isso? Esses sim são os verdadeiros loucos... Não sabem o prazer que é deitar-se diante de um céu estrelado e se imaginar num foguete em direção a lua. Como é bom sonhar."





8 comentários:

  1. Amiga fiquei arrepiada quando eu li esse texto, essa história ficou fantástica, é dele mas ficou fantástica, eu quando cheguei ao 5º parágrafo já vi que era dele... Parabéns pelo seu talento amiga, vc é muito especial e precisa crescer nisso... bjs

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  2. ficou lindo ....... parabens
    Quem dera si fose apenas uma simples historia tirada da imaginaçao dessa escritora
    mas infelismente é uma historia real qua acada dia nos aflige mais e mais na esperança de dar tudo certo de ter um ponto final.....

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  3. Parabéns Maria essa história ficou fantástica.
    Que deus continue te abençoando cada dia mas,para poder escrever essas histórias lindas porém a realidade.
    Bjss

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  4. Muito obrigada meninas pelo apoio de vocês... Tenho fé e esperança de que o final dessa história será bem diferente... Afinal, é o que todos nós esperamos!

    Bjks!!!

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  5. Não sabia do blog, parabéns. Vc escreve muito bem. Tomara mesmo que essa história tenha um final feliz. Bjs.

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  6. Puxa!!!

    Obrigada, de verdade. Fico muito feliz em "vê-la" por aqui... Será muito bem-vinda nas próximas vezes...

    Bjs.

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  7. Parabéns!! Vc tem um dom divino!! Suas histórias são lindas.
    Esta história da vida real terá um final feliz, eu creio em Deus!!!
    Bjs

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  8. Obrigada, Sol...

    É muito bom contar com o apoio de todos vocês neste momento tão difícil... Tenho fé que tudo isso vai melhorar.

    Bjs.

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